Se o Natal tem um “espírito”, não o ente sobrenatural, mas uma identidade ou propósito, a comunhão, com certeza, é o maior deles. E quando se fala sobre onde está este espírito, você o encontra no ato de presentear, na reunião da família, na solidariedade com o próximo e até desconhecido, com a troca gratuita de carinho. Se você o procura, o encontra em diversos lugares, mas em especial, nestas expressões gratuitas de comunhão, que são as casas decoradas que abrem ao público para visitação. Em Marília, algumas famílias cultural, praticam, e promovem este “espírito natalino” ao público, a todos, e de graça.
Uma destas expressões, que já se tornou tradição e está completando oito anos de dedicação, empenho, investimento, tempo e muita felicidade, é o da família Artigiani, dos pais Jorge e Dora e dos filhos Rubens, Marília e Marcela, que moram na Rua Joaquim Nabuco, 309, próximo da esquina com a Santo Antônio. A filha mais velha já se casou e já não mora mais com os pais e irmãos.
Eles moram numa bela e muito bem conservada casa de madeira, que por si só é um patrimônio histórico da cidade, por ainda conservar o estilo colonial dos pioneiros da cidade, com seu teto baixo, que traz mais aconchego e calor humano. A escolha do local é sentimental. Foi onde todos nasceram e cresceram, dos pais já falecidos. Seu Rubens vive no local há 50 anos e não o troca por nenhuma mansão. Ele eletricista aposentado, dos bons, formou o filho engenheiro elétrico.
Na véspera de 2016, resolveram ousar. Incentivados com as campanhas de Natal Iluminado, aproveitaram seus conhecimentos e montaram o próprio sistema de iluminação da casa, com total segurança e garantia.
“Era uma brincadeira de família, tomados sim pelo espírito natalino, que sempre cultuamos em nossa família. Eu sempre gostei de artesanato e desenho, resolvi montar alguns bonecos, e com criatividade e simplicidade, decoramos a casa inteira”, explicou Rubens, que teve a ideia, mas foi com a ajuda do pai Jorge que tudo aconteceu.
Tudo depois foi consequência desse ato. A casa, decorada, chamou tanto a atenção que vizinhos e passantes se encantaram ao ponto de parar, e aproveitar a bela cena, a expressão clara do “espírito natalino”, para fotografar, para brincar com os filhos, e aproveitar o contexto para também compartilhar este espírito.
“Não foi planejado, e com o aumento do público, meio que tivemos que abrir a casa, e deixar as pessoas apreciarem e fotografarem, com maior segurança, pois a rua em que moro tem grande fluxo de veículos e seria perigoso alguém ser atropelado”, conta o rapaz.
Para proteger o público a casa foi aberta e nunca mais fechada. Desde então, desde o começo de dezembro, a família se empenha, se reveza, se planeja e agora tem até ajudantes, voluntários, para promover este espírito. Para receber o público, para entreter, e compartilhar felicidade, carinho, comunhão e boas emoções.
Já são oito anos de dedicação, em que das 19h30 até as 23h, em todos os dias de dezembro, e um pouquinho do começo de janeiro, a família se prepara para ser anfitriões, guias deste espírito de Natal. A cada ano, as decorações aumentam.
Em 2016, a primeira decoração foram os bonecos de neve de “copinhos” de plástico. Já se vão oito anos de vida deles, sempre conservados e bem guardados, para voltar no próximo ano.
Outro que se manteve preservado e retornou esse ano é o presépio de isopor, no canteiro. Desde 2019 ele se apresenta na decoração da casa. Os bonecos de neve “músicos”, criados em 2021, também continuam na decoração. “Faço questão de guardar e conservar”. Para esse ano, também há decoração nova. Um trenó de papai noel. Cada canto da casa é possível fazer uma foto diferente e o público adora.
Neste ano também houve incremento na iluminação. Eles começaram com seis mil lâmpadas em 2016 e neste ano inauguraram 11 mil lâmpadas. Ao serem questionados se pretendem parar de promover esta festa natalina para a população de Marília, todos dizem que não.
Já se vão oito anos de Natal e Ano Novo “trabalhando” para o Papai Noel, melhor, para o Aniversário de Cristo, para o começo do solstício, ou a crença que melhor desejar, pois todas simbolizaram a união, em prol da família, de um Deus ou de uma boa colheita.
“Se tornou parte de quem somos, um hábito, uma tradição, um momento de união da família, amigos, de partilha com o próximo e isso é muito bom”, declarou o rapaz que idealizou isso aos 27 anos e hoje tem cada vez mais orgulho do que fez, aos 35.
Quem quiser aproveitar um pouco disso tudo e conhecer essa família dedicada ao Natal em Marília é só aparecer por lá das 19h30 às 23h, que eles estarão de portas abertas para receber.
Mas só nestes horários, pois nos outros eles voltam a ser gente como a gente, que trabalha, estuda, descansa e se diverte.